sábado, 29 de outubro de 2011

DEUS x LÓGICA


mariamadHá alguns meses eu vi um sermão que abordava uma questão muito interessante. O pregador era um irmão e amigo, o Wellington Carvalho, na época Ancião da Igreja Central em João Pessoa-PB. Ele afirmava na ocasião que “Deus é ilógico“, ou melhor, Deus toma atitudes “ilógicas”.
O que o Wellington queria dizer era que o Senhor tem um comportamento bem diferente daquele a que nós, seres humanos pecadores, estamos acostumados a vivenciar em nosso dia-a-dia. Este sermão me fez refletir sobre o assunto, e vi que realmente há muitas passagens na Bíblia que revelam o quanto o nosso Deus age por meios diferentes daqueles pelos quais nós agiríamos em situação semelhante.
Vejamos alguns exemplos…
1. Manassés (2Crôn. 33)
Eu já fiz um comentário mais detalhado sobre a vida deste rei do AT, em alguma postagem anterior. Mas hoje quero me deter na atitude de Deus para com este homem.
O relato bíblico mostra o quanto este rei foi mau e perverso, e fez com que o povo se desviassem para muito longe do Senhor. Em determinado momento de sua vida, Deus permitiu que Manassés fosse levado cativo pelo exército da Assíria, sendo humilhado em uma prisão extremamente degradante.
Nesta situação de dor e angústia, o rei fez uma oração sincera e desesperada, e a Bíblia é enfática em dizer que “Deus Se tornou favorável para com ele”, o perdoando e restabelecendo ao trono.
Onde está a “falta de lógica” divina?
A grande maioria de nós, seres vingativos e implacáveis com os que erram, até entenderíamos que Deus poderia ter perdoado o rei (não fazemos o mesmo, mas entendemos o ato divino…). Mas permitir que Manassés retornasse ainda com rei (?!)… Isso é demais para nós! Os que adoram levantar suas mãos nas reuniões de Comissão para disciplinar seus “irmãos” faltosos, teriam insistido para que Manassés fosse disciplinado exemplarmente, para assim aprender uma “lição”. Afinal, devemos chamar o pecado pelo nome, e não podemos ficar passando a mão na cabeça dos pecadores, para não acostumá-los mal.
Percebe como Deus foi “ilógico” nesta situação? A “lógica” mandava que Ele perdoasse, mas que não desse outra chance ao rei. Ele poderia até voltar para Jerusalém… mas como rei? Nunca!
2. Davi (2Sam. 11)
O adultério de Davi com Bate-Seba talvez seja uma das histórias mais conhecidas do reinado deste homem. Ele foi capaz de cometer vários pecados simultâneos e progressivos, começando pela cobiça e luxúria, passando pelo adultério consumado, e culminando no assassinato de um homem inocente (sendo Davi o “mentor intelectual” do crime). O Salmo 51 mostra o quanto Davi se arrependeu pelo seu ato repugnante, e também revela como o coração do rei estava angustiado com a necessidade de receber o perdão de Deus. O profeta Natã assegurou a Davi que o Senhor perdoara seu pecado (2Sam. 12:13), e que o rei deveria sofrer as conseqüências pelos seus muitos erros.
Onde está a “falta de lógica” divina?
Mais uma vez, ao compararmos a atitude de Deus com relação a Davi, com as atitudes que nós hoje tomamos para com nossos “irmãos” que falham (às vezes, nem tão “feio” quanto o rei…), podemos observar como o Senhor age por caminhos diferentes dos nossos.
1. De Bate-Seba (a adúltera!) nasceu o filho que seria o sucessor do trono de Davi, e aquele que receberia o privilégio de edificar e consagrar a nova Casa do Senhor, conhecida até hoje como o “Templo de Salomão”. Por que Deus aceitou isto das mãos de um homem que foi fruto de um relacionamento tão vil e desprezível?!
2. Se não bastasse o fato de Davi continuar no trono (lembre-se que Saúl o havia perdido para o próprio Davi), Deus ainda lhe concedeu muitas vitórias militares, e sobre Davi é colocado um rótulo que intriga muitos estudiosos bíblicos até hoje: “um homem segundo o coração de Deus” (cf. Atos 13:22). Como um homem com atitudes tão reprováveis pode ser considerado dessa maneira por um Ser que é todo Amor?
3. A Múlher Adúltera (João )
Alguns acreditam que esta mulher era Maria Madalena (e é mesmo possível que tenha sido ela), outros, não. Mas o mais importante é que este relato maravilhoso chegou até nós como um grande exemplo da maneira como o Senhor Jesus queria que o povo interpretasse os regulamentos divinos.
A mulher apanhada em “flagrante adultério” estava condenada à execução pública, conforme determinava a lei civil em vigor (cf. Lev. 20:10; Deut. 22:22). Para as pessoas que a haviam trazido à presença de Jesus, ela deveria sair dali direto para o portão da cidade, para ser apedrejada até à morte, sem qualquer “pingo” de misericórdia. Se isto não ocorresse, e Jesus fizesse uma interpretação contrária à Lei (ou seja, não “chamasse o pecado pelo nome”), então 2 sairiam dali condenados.
A resposta de Jesus foi inimaginável (“ilógica”): Podem atirar as pedras, conforme está escrito na Lei, mas somente os que estiverem “sem pecado” é que têm autoridade para fazer isso.
Onde está a “falta de lógica” divina?
Este relato do NT é clássico para nos mostrar claramente como nossa visão cruel e vingativa está frontalmente em contraste com a visão misericordiosa e paciente de Deus. Pela Lei (pela “lógica”, pelo “Manual”) a mulher deveria ser apedrejada sem dó nem piedade, mas o Senhor Jesus sabia muito bem o que estava “por trás” daquele aparente zelo pela santidade da Lei. Aqueles “irmãos zelosos” ali estavam com a certeza de que não haveria outra saída daquela situação, senão o cumprimento cabal e urgente da lei que fora transgredida. Para eles, só haveria uma resposta de Jesus que pudesse demonstrar que Ele era mesmo um fiel cumpridor da Lei e dos Profetas. Será?!
O que podemos aprender de tudo isso?
Quero reafirmar, para evitar possíveis distorções do que estou escrevendo aqui, que não sou contra a prática da disciplina eclesiástica. Ela é importante e essencial para manter a ordem na Igreja de Deus, e evitar que o rebanho se disperse por caminhos tortuosos.
Porém, o que posso ver na Bíblia é que o Senhor Deus Se preocupa mais com as pessoas do que com os pecados que estas pessoas cometeram. Nos três exemplos acima citados, todos sofreram a punição merecida pelos seus atos, porém de forma um pouco diferente daquela que a “lógica” determinava para a questão.
Além do pecado, e acima dele, o Senhor olha para o pecador como alguém a ser resgatado, e não como um lixo humano que merece ser descartado. Se nós, que muitas vezes queremos ser tão zelosos no cumprimento dos “regulamentos eclesiásticos”, nos preocupássemos mais em entender o irmão faltoso, e procurar ajudá-lo a se reerguer e continuar na jornada, tenho certeza que estaríamos cumprindo com toda plenitude o que o nosso maravilhoso Deus de Amor e Misericórdia deseja ver em nossos relacionamentos fraternais.
Para muitos de nós, Deus é só JUSTIÇA e CONDENAÇÃO, e talvez por isso tenhamos tanta dificuldade em vê-Lo como AMOR, MISERICÓRDIA, GRAÇA e PERDÃO LIBERTADOR.
Da próxima vez que a “lógica” mandar você levantar sua mão de condenação sobre um “irmão” que caiu no erro, antes de fazer isso aja com “ilógica”, e abra os braços para acolhê-lo, orar com ele, chorarem juntos, e assim você servirá de instrumento para levantar um alma caída.
Quem sabe algum dia você precise que alguém também seja “ilógico” com você…
“Porque os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os Meus caminhos, diz o SENHOR” – Isaías 55:8.

Autor: Pr Gilson Medeiros

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